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Dorian Gray: Inovador e incentivador das artes potiguares

Por Antônio Marques

Pintor, tapeceiro, escultor e poeta. Um misto de talento e disciplina, cultura e técnica, inteligência e sensibilidade. Em 1950, juntamente com Newton Navarro e Ivon Rodrigues, expôs no “Salão de Arte Moderna”, instalado por eles em um antigo casarão ocupado pela Cruz Vermelha, nas proximidades do Grande Ponto.

O evento sacudiu o marasmo cultural da província, revolucionou a pintura de cavalete, motivou debates sobre as novas tendências artísticas, nacionais e internacionais e, finalmente, ficou com o marco da penetração do movimento modernista no campo das Artes Plásticas no Rio Grande do Norte.

Além do espírito inovador, de vasta e sólida cultura que nos faz lembrar a encarnação dos ideais renascentistas, Dorian Gray também se destacou no desempenho de funções públicas de caráter cultural como assessor da secretaria de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (1967-68) e da Fundação José Augusto (1974), conselheiro e membro do Conselho Estadual de Cultura (1967-68) e da Escolinha de Arte Cândido Portinari (1967-68).

Como artista plástico participou de inúmeras coletivas. Dentre estas, merecem destaque: “Salão de Arte Moderna” em Natal, na Cruz Vermelha (1960, 1952, 1955); “Cerâmica, Pintura e Escultura”, em 1956 na Loja 21 de Março, e, em 1958, na Sociedade Brasil - Estados Unidos, ambas em Natal; “Pintura” no Salão Nobre do Palácio Potengi, Natal (1964); “Pintura”, na Galeria Berro d’ Água, Rio de Janeiro (1967); “O Rio Grande do Norte visto por seus artistas plásticos” - Galeria Conviv’Art - UFRN (1985); “Pintores Norte-rio-grandense”, na Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro (1987) e I Coletiva de Pintores Norte-rio-grandenses em Mossoró (1987). Quanto às individuais de pintura merecem registro especial as que foram realizadas nos seguintes espaços: Galeria 7, Olinda (1967); Galeria Goeldi, Rio de Janeiro (1967); Azulão Galeria, São Paulo (1968); Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco (1969); Hotel Nacional de Brasília - DF (1969 e 1982); Galeria Conviv’Art - UFRN (1985) e Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (1986).

Entre as exposições de tapeçaria importa mencionar a que foi realizada em 1970, na Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Efetivamente, a primeira exposição de tapetes artísticos realizada em Natal, além de marcar o início da Arte da tapeçaria no Rio Grande do Norte.

Ainda expôs seus tapetes de colorido “fauve” - nesse aspecto bem diferente de sua pintura que guarda sempre tons pastéis - no Ideal Clube de Fortaleza, sob patrocínio da Secretaria de Educação e Cultura do Ceará (1971); no Inter-American Development Bank of Washington (1973) e no Museu Nacional de Arte Decorativa, Buenos Aires (1980). Atualmente, sua obra artística (particulamente a tapeçaria e a pintura) encontra-se em acervos de instituições culturais e em coleções particulares no País e no exterior. Tornou-se rotina para quem visita Natal levar como melhor “souvenir” um trabalho assinado por Dorian Gray. É que ninguém melhor que ele para expressar, através das cores e das formas, a nossa paisagem física, humana e social. O poeta Sanderson Negreiros assim o define: “Pintor de marinhas, é um dos que melhor neste País souberam ver, trasfigurardo, rever e modificar o grande mar - nordestino e do mundo”.

Newton Navarro reforça o depoimento de Sanderson quando em uma de suas crônicas escritas em homenagem a Dorian Gray afirma: “Quantas vezes diante do mar o seu pincel descobre matizes que facilmente outro pintor não descobriria! Pinta e o mar passa inteiro para suas telas”.

Comentando uma de suas exposições realizada no Rio de Janeiro, Antônio Bento escreveu: “Paisagens campestres como nas cenas das praias natalenses e em composições diversas, Dorian Gray Caldas tenta fixar a atmosfera e o caráter de sua terra, através de formas e cores de incontestável sabor telúrico ou nativo. É por isso mesmo um pintor representativo da cultura plástica do Nordeste brasileiro”.

Dorian Gray sempre soube cultivar, simultaneamente, a gravura, a escultura, a tapeçaria, além do jornalismo, do ensaio e da poesia.

No entanto, o levantamento que realizamos da sua trajetória artística leva-nos a afirmar que houve, de 1950 a 1970, uma predominância da produção pictorial. Desta época datam dois depoimentos importantes a respeito da sua pintura. O primeiro é o de Câmara Cascudo: “Compreende-se que Dorian Gray, pintor e desenhista enfrentando a composição, tenha a vocação pictórica pela realidade brasileira, incapaz de deformá-la, mutilá-la, sob pretexto de interpretação pessoal. Esses sentimentos, profundos, obscuros, radiculares, na permanência mental, ascendem no impulso irresistível da espontaneidade, constituindo uma anticlinal, uma figura coletiva, palpitante e lógica, na personalidade do artista (THE CREATOR OF BEAUTIFUL THINGS). A emoção duplica os temas da modelagem impressionista, numa diplopia geradora de imagens de assombro e verdade”.

O segundo foi emitido pelo crítico de Arte Clarival do Prado Valladares: “Artista de nível nacional, Dorian Gray Caldas tem uma pintura de muito boa qualidade e eficiência, a nível perfeitamente competitivo com o que se vê produzido, e com a vantagem de ter aquele aspecto da tomada da ancoragem no genuíno, que muitos outros já perderam de vista por sentimento de internacionalização. Dorian Gray usa recursos da técnica em grande parte do autodidatismo, mas pelo tempo e pelo exercício bem fundamentados exerce uma criação artística referencialmente do local, mas em termos da pintura universal do homem erudito”.

A década que vai de 70 a 80 é a fase da tapeçaria que Dorian Gray realiza melhor sua vocação muralista. Alguns dos seus tapetes chegam a medir vinte metros quadrados. Infelizmente, Natal não oferece campo fértil para o florescimento da Arte Mural. A partir da década de 80, Dorian Gray passa a dividir seu tempo com a pintura, a tapeçaria, a poesia, o ensaio e a pesquisa de fatos relacionados com a vida artística do Estado cuja consequência imediata é a publicação deste livro. Talvez sua posse na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, em 1986, tenha contribuído para uma tomada de consciência da sua responsabilidade para com outros aspectos da vida cultural do Estado.

Dorian Gray foi intenso com seu trabalho de incentivo aos novos artistas, além de ter sempre manifestado sua preferência por exposições coletivas, ao lado dos artistas plásticos conterrâneos. Aliás, a necessidade da exposição individual tornou-se menor à medida em que o artista dispôs de um amplo ateliê onde apresentava permanentemente suas obras. Além disso, tinha a certeza de que as galerias de Arte do Nordeste e de outros centros culturais do País sentiam-se honradas em apresentar, nos seus acervos, quadros e tapetes que traziam a assinatura de um artista plástico nacionalmente consagrado como Dorian Gray.

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