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As umas e outras de Clotilde Tavares

Uma conversa sincera com a médica, atriz, escritora e professora sobre arte, literatura, séries de TV, Natal de 40 anos atrás, internet pré-histórica e felicidade em tempos de whatsapp.

Por Paulo Araújo

Ney Douglas Marques

Ela chegou por aqui, vinda de Campinha Grande (PB), em 1970, para estudar Medicina na UFRN e nunca mais nos deixou, tornando-se, de fato e de direito, uma cidadã potiguar. Ao mesmo tempo que virou escritora premiada de vários livros, atriz e professora de teatro da UFRN, apresentadora de TV, colunista e criadora de jornal, além de mexer com internet quando a rede mundial de computadores ainda engatinhava, Clotilde Tavares tornou-se uma observadora privilegiada da cena cultural potiguar a partir do seu apartamento forrado de livros, onde nos concedeu a seguinte entrevista:

Vamos começar com uma pergunta bem objetiva: o que é felicidade?
Uma vez escrevi numa crônica que felicidade é isso: tudo no lugar. A mesa posta, a rede armada, o suco de pitanga na geladeira, a lua nova se desenhando no céu no final da tarde, aparecendo junto com a noite. Nada pra fazer. Porque as pessoas pensam, no meu entender, que felicidade é ter coisas, ou então ter conquistas. “Ah, eu só serei feliz quando os meus filhos se formarem, só serei feliz quando me casar e tiver o meu primeiro filho”, costuma dizer. As pessoas colocam sempre a felicidade em coisas “fora” dela. Mas felicidade é algo de “dentro” e precisa de prática.

As pessoas estão deixando de praticar a felicidade?
Acho que sim porque nos últimos tempos vejo muita gente que, como eu, nasceram num tempo “sólido”, são obrigadas a viver num tempo “líquido” como o de hoje e ficam muito ansiosas. Esses conceitos foram explicados pelo filósofo polonês Zygmunt Bauman. Elas não se adaptam muito bem ao “líquido” porque ainda acreditam na solidez dos relacionamentos, na solidez dos empregos, das profissões, das carreiras, das preferências, da família e de uma série de coisas. Ou então já são pessoas “líquidas” que ficam boiando sem saber para onde ir.

Você é sólida ou líquida?
Sou uma mulher “pastosa” (risos). Passei mais da metade da minha vida num tempo sólido, mas sempre tive uma cabeça líquida. Então eu me dava mal no tempo sólido, porque minha cabeça estava sempre mudando, sempre flutuando. Eu estudei medicina, trabalhei com arte, fui professora, fui comunicadora. E fiz outras coisas, como tocar violoncelo na Orquestra Sinfônica durante um ano. Sempre gostei de mudar, de não me apegar a nada. Sempre tive uma cabeça muito líquida num mundo sólido, uma cabeça mutante. O líquido, como a gente sabe, se adapta a qualquer recipiente, ele não tem forma.

As pessoas entendiam essa sua “pastosidade”?
Não. Sempre fui mal interpretada, tanto do ponto de vista das minhas atitudes pessoais, morais, como do ponto de vista das atitudes do dia a dia. Eu era médica, mas não gostava de usar roupa branca. Eu não dirigia, pois tinha uma limitação, tinha medo de dirigir. Então eu sendo médica e sem ter um carro, muita gente achava que eu não era médica. Ia para o ponto de ônibus e as pessoas me viam e depois comentavam na Universidade que eu não era médica por isso.

Como começou a “liquidez” em nossas vidas?
Há pouco menos de uma década, com as redes sociais de comunicação rápida e pouco sólida. A pessoa está conversando com outra na internet, de repente fica entediada, sai e nem diz “ciao”. Não existe mais aquela delicadeza de dizer “Olha, preciso desligar”. No Whats App as pessoas simplesmente abandonam a conversa. É muito líquido. Para um mundo de hoje a minha cabeça ainda é um pouco sólida (risos). Isso me irrita um pouco, porque eu gosto da chamada delicadez interpessoal. Acho que as pessoas devem dizer “por favor”, “com licença”, “muito obrigada”, “me desculpe”. As pessoas não dizem mais essas quatro palavras mágicas, não se incomodam mais com isso. Acham bobagem. Quando estamos conversando com uma pessoa frente a frente, de repente ela baixa a cabeça e começa a teclar. Muita gente que eu conheço faz isso.

Você já viveu episódios chatos por causa disso?
Certo dia um rapaz aproximou-se de mim e disse que era jornalista. Falou que me conhecia e perguntou o que eu andava fazendo. Falei do meu livro novo e ele parecia bem interessado. De repente, ele baixou a cabeça e começou a teclar no celular. Ele não disse nem “com licença, estão me chamando aqui no whatsapp”. Não. Ele simplesmente me abandonou. Outro dia eu estava no banco, sentada na mesa de frente a um funcionário esperando ser atendida, e ele não saía do telefone. A mim, que estava ali, não dava a menor atenção. Então tive a ideia de pedir o número do telefone da mesa dele a outra pessoa e liguei do meu celular. Quando ele atendeu, eu disse: “Sou eu, que estou aqui na sua frente”.

O mundo era diferente lá na Campinha Grande da sua infância?
Era sim, pois sou do tempo em que não existia telefone sequer na casa das pessoas. Quando tivemos o primeiro refrigerador lá em casa eu já tinha uns 11 anos. Mamãe fazia um bilhete, entregava a um menino que ficava pela rua e pedia para ele entregar na casa da minha tia. E ele ficava esperando a resposta dela. Havia uma senhora na rua que tinha um telefone e todo mundo usava. Essa senhora também tinha uma geladeira e todo mundo da vizinhança deixava a carne lá. Dona Alice, a dona da geladeira, entregava a carne e mamãe tirava o pedaço que ia ser consumido. Depois eu voltava correndo para devolver o resto que não tinha sido usado. Naquele tempo as pessoas eram muito solidárias.

Você não sente falta daquele burburinho da Universidade?
Acho que tive muita sabedoria para fazer essa transição de se aposentar - e ainda não terminei. Alguns professores dão aula em cinco disciplinas, tem uma série de reuniões disso e daquilo, de base de pesquisa, de repente se aposenta e some tudo isso. Aí fica em casa, liga a televisão e não sabe nem o nome daquele artista da TV, não tem ligação com nada, não gosta de leitura e vai sentindo falta daquele burburinho. Quando eu deixei a Universidade, me dediquei muito a coisas que tinha vontade de fazer e não tinha tempo. Cuidei da minha aparência, me dediquei à leitura. Meus filhos já estavam crescendo e não precisavam tanto de mim e me dediquei a fazer meus sites na internet. Coisas assim podem ser bruscas ou durar 20 anos. Ninguém vai dormir criança e acorda adolescente. A pessoa vai mudando e cada um tem seu tempo.

A sala de aula é como um palco de teatro ou isso poder ser um perigo?
Não é que ela seja como um palco de teatro, pois ela exige o confronto de duas populações. De um lado o professor e do outro o aluno, muito embora o processo de aprendizagem só se dê quando essas duas coisas estão juntas. Eu sempre dizia para os meus alunos: “Aqui eu não ensino nada a ninguém. Vocês aprendem se estiverem a fim”. A maioria das coisas que eu sei ninguém me ensinou. Eu aprendi. Nunca frequentei um curso de teatro na minha vida. Então dizia a eles: “Eu estou aqui 100% com vocês”. É como se eu fosse uma professora de natação. Ele só aprende a nadar se cairmos na água juntos. Se eu ficar fora dando instruções, ele se afoga e se eu cair na água e ele tiver medo, não aprende. Então vamos cair juntos.

Você sente muito orgulho de ter sido professora dessa geração de atores que já chegou ao palco?
Demais! Dei aula de teatro para gente como Titina Medeiros, João Junior, Natália Klein. Uma aluna muito talentosa, que não se tornou atriz, é Keila Fonseca. E teve também os meus alunos de medicina. Fui professora da ex-governadora Rosalba Ciarlini quando ensinava Nutrição e Saúde Pública, veja só! Só deixei a medicina em 1990. Por esses dias, fui me consultar com um médico que foi meu aluno e eu não me lembrava dele. Foi uma festa! E depois fomos pra mesa de cirurgia...

E o que é ser ator ou atriz?
É antes de tudo dar vida a uma criatura que não existe, que é o personagem. Ele só existe quando eu empresto a ele o meu corpo. Porque não são as palavras, é a energia. Isso é um milagre, dar vida a quem não existe. Só quem faz isso são os deuses e o ator faz isso todos os dias em cima de um palco. Mas o bom ator. Porque o mau ator não consegue sair dele, não consegue esquecer de si e não dá espaço ao personagem. Ele quer agradar a mãe, a namorada, fica em busca do aplauso. Ele precisa esquecer tudo isso, pois o objetivo não é esse. O personagem e o ator têm objetivos distintos. Se o ator deixa os seus interesses aparecerem ele se sobrepõe e ninguém consegue ver o personagem.

O que é a arte para você?
Gosto da definição clássica que a gente ensina na academia, apesar de parecer simples. Entendo a arte como um processo de comunicação. A fala é um processo de comunicação. Às vezes produzo algo que considero arte, mas ninguém vê. Quantos textos não estão numa gaveta? Quantas peças de teatro não estão apenas na cabeça de quem imaginou?

Qual é o papel da arte na sociedade?
Imagine que você tem dois extremos, arte e entretenimento. Nessa linha transita tudo isso, a música, literatura, as artes plásticas, etc. Quando produzimos temos que ter muita consciência do que estamos fazendo. Certo dia uma pessoa chegou aqui e disse: “Clotilde eu quero uma “sofrência. Você faz uma letra de uma sofrência para mim?” E eu respondi que sim. Fiz, e deu certo. Eu não vou dizer que fiz arte. Eu fiz algo que está mais perto do entretenimento. Mas acho que as pessoas não fazem essa distinção. Elas consideram arte qualquer música que colocam num CD. Acho que a arte, quanto mais próximo estiver dessa linha, ela tem que ser capaz de levantar o véu que separa o visível do invisível. É que aquilo que causa um vislumbre.

E o que faz você acreditar que o “véu” vai ser levantado?
Intuição. Esse véu é diferente para mim e para você. Tem grupos de teatro que o público ama e eu fico me perguntando o motivo. Eu não gosto de samba, mas gosto de Paulinho da Viola, Bezerra da Silva, Cartola. Dessas novas gerações eu gosto de Dudu Nobre, Zeca Pagodinho. Eu não vou dizer que gosto de tudo, pois hoje sou mais seletiva. Mas já gostei de muitas coisas que não me interessam mais hoje em dia.

Um produto típico da nossa era são as séries americanas. Por que elas fazem tanto sucesso?
As séries apareceram porque é muito caro fazer cinema e havia uma necessidade nos canais que estavam se instalando na TV a cabo, quando ela estava se popularizando, há cerca de 20 ou 30 anos. E havia um espaço e não sabiam o que fazer. Os criadores e roteiristas faziam pilotos, propostas e entregavam aos estúdios. Eles, por sua vez – especialmente a HBO -, compraram essas propostas. Muitas vezes achavam que não eram comerciais, mas foi dando certo. E começaram a fazer arte, produzir para a TV roteiros que só eram aceitos no cinema. Achavam que não havia público para aquilo. Mas desenvolveram séries de treze episódios, onde você tem um arco com a temática central, que se resolve na primeira temporada, mas deixam algo em aberto para que, se der certo, fazer uma segunda. É uma metodologia deu muito certo.

Em que medida Shakespeare é importante na sua vida?
O cristão não olha a bíblia? O mulçumano não olha o alcorão? Eu olho Hamlet. Eu acho que Shakespeare tem o discurso mais profundo sobre o que é o ser humano. Você sempre vai achar uma frase dele que se ajusta a qualquer situação. Ele conseguiu, naquela época, produzir uma obra que permanece 450 anos depois, viva, fresca e desafiando novas interpretações.

Você escreveu um livro muito importante chamado “Formosa És”. Que história é aquela?
Em dezembro, completo 68 anos e sempre tive aquelas confusões, aquelas tristezas e atribuía isso aos traumas que sofri na adolescência. Depois de completar 60 anos, me dei o direito de me aborrecer com as coisas. E como debaixo de toda raiva há medo e culpa, fui fazer terapia. E toda semana contava coisas sobre mim. Nessas conversas com a psicóloga, descobri que o núcleo de toda essa minha contrariedade era o internato. Fui para o colégio interno aos oito anos e até hoje não sei o motivo. Um dia eu reclamei porque a consulta era curta e não dava para falar tudo que eu queria. Então, a psicóloga sugeriu que eu escrevesse. Passei 15 dias escrevendo e deixei aquilo lá. Isso foi em 2008, em João Pessoa. Voltei para Natal, e em 2011 encontrei esse texto no computador, organizei tudo e fiz uma edição virtual. Muitas pessoas gostaram e pediam a edição impressa. O livro foi uma retomada da minha infância.

Por que é tão distante o caminho entre escrever e publicar?
Publicar é comércio. É como o jogo de futebol e a FIFA. Uma coisa é a partida em si, com suas regras, e a outra é o povo que ganha dinheiro com aquilo. Então quando a pessoa começa a escrever pensando em publicar, como vai publicar, atrapalha o processo de criação. A pessoa fica querendo cumprir prazo. Então eu resolvi dar um tempo e escrever as minhas memórias, bem devagar. Esse ano eu fui contemplada com uma bolsa num projeto do Ministério da Cultura, Circulação de Escritores. Concorri com outros escritores e ganhei. Minha proposta foi circular por 12 cidades em todo o Brasil fazendo palestra sobre meu livro. O projeto chama-se “O cordel está no ar”. Consiste em passar por essas cidades e apresentar palestra sobre a Literatura de Cordel, e divulgar os meus três livros “O Versoe o Briefing”, “A Botija” e “O Monstro das Sete Bocas”. Concorri em maio de 2014, o resultado saiu em 2015 e só agora recebi a bolsa. Tenho seis meses para executar.

Você nasceu praticamente dentro de um folheto de cordel, não foi?
As pessoas me perguntam como eu me interessei pelo cordel e eu digo que ele fez parte da minha formação. Minha mãe trazia da feira para ler pra nós. Papai sabia decorado, as empregadas domésticas, todos sabiam. Leandro Gomes de Barros foi o pai da Literatura de Cordel. Ele montou um sistema de criação, produção dos livretos, impressão e distribuição. Uma coisa que funcionava. Isso no início do século, em Pernambuco. Quando acontecia algo, ele criava um folheto, depois imprimia, rodava e no dia seguinte ele já estava no lombo do burro para vender pelas estradas. Quando ele voltava, trazia ideias, novidades e assim ia produzindo. Ele criou esse sistema literário organizado que dura até hoje no Nordeste brasileiro. Escrevi um trabalho chamado “Folheto na Propaganda”, material que foi vendido para a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/SP). A primeira parte é sobre cordel e explica como ele nasceu. Percebi que as pessoas não sabem de onde vem o cordel. Elas acham que é poesia matuta, que é escrito errado.

Você integrou o time de colagoradores d’A República nos anos 1970...
Eu me formei em 1975 e entre 1976 e 1977 eu tentei me firmar como escritora. Escrevia contos, pois era a época dos contos brasileiros, escrevia poesias populares. Não me lembro quem editava um caderno d’A República que saia aos domingos e saiam vários contos meus. Tem um conto meu que era “amanhecer de Tânia”. Era sobre uma moça que foi ao Motel Tahiti com um rapaz, um verdadeiro assombro naquela época. Lembro que esse conto gerou um estranhamento. Meu chefe disse que eu, como professora universitária, não era para publicar aquele tipo de texto.

Como era Natal naquele tempo?
Eu cheguei aqui em 1970 e morava na Cidade Alta, num quarto alugado de uma casa numa rua perto de onde hoje é a Cosern, e ia andando até a faculdade de Medicina, no Hospital Onofre Lopes. Era tudo tão sossegado. A gente passava a noite andando na rua. Eu também estudava no conservatório de música, na Praça Cívica.

Havia muita coisa diferente da Paraíba?
Lembro que aqui em Natal foi a primeira vez que vi um travesti. Entrei no Palácio dos Esportes e estava acontecendo um Carnaval. Quando entrei, vi um homem alto, magro, com uma peruca e um vestido brilhoso, branco, de luvas, pulseira, parecia um artista de Hollywood. Fiquei muito espantada. O nome dele era Duruca, acho que as pessoas mais velhas devem se lembrar. Nessa época quem fazia sucesso em Natal era Mirabô, Odaires, Teresinha, Márcio Tassino. Depois comecei a namorar Assis Furtado e ele tinha uma banda. Nessa época, os encontros eram na praça das cocadas, que é a praça Kennedy, onde havia o antigo Cinema Nordeste. As moças elegantes passeavam a pé da avenida Rio Branco até a Ulisses Caldas. No final da tarde havia um passeio de carro na Praia do Meio. Tinha umas matinês na sede do ABC, perto da Praça das Flores. Lembro da primeira boate de Natal, que era no Tirol. Então minha vida era de casa para a faculdade, acompanhava os ensaios do namorado, ia para o cinema de arte, no Cine Rio Grande todo domingo de manhã. Tinha também o Teatro. Fazíamos umas peças e nos apresentávamos no Teatro Sandoval Wanderley, que ficava na rua Apodi. Tinha capacidade para umas 80 a 100 pessoas.

Como foi sua passagem pela TV Cabugi?
Naquela época eu lia muito sobre esoterismo. Muita gente acha, até hoje, que sou esotérica. Leio cartas, mas na verdade o que eu faço é conversar com a pessoa e as cartas vão despertando memórias e vou perguntando o que aquilo significa para essas pessoas. Eu usava o tarô mais como um gatilho para despertar essas memórias. Então me convidaram para apresentar um quadro chamado Alto Astral. Mas eu queria outra coisa, só que não revelei logo de cara. Eu ia toda semana gravar e o programa ia ao ar na semana seguinte. Comecei falando sobre essas coisas e depois mudava a temática. Falava em auto-estima. O público adorava e eu me tornei “famosa” em todos os municípios do RN. Passei quase um ano aparecendo na TV toda semana.

E a internet, como apareceu na sua vida?
Eu comprei meu primeiro computador em 1992. Não tinha nem Windows e a internet era algo muito difícil. No início daquele ano resolvi escrever uma carta para minha mãe e o editor de texto tinha umas figurinhas e eu adorei aquilo. Minha mãe achou linda a carta toda enfeitada. Aí resolvi fazer outras para os meus amigos. Fiz uma carta em duas colunas em formato de jornal. Mandei para 20 pessoas pelos Correios. Não tinha internet, e-mail. Todo mundo adorou e eu comecei a fazer mais. Em dia de lua cheia saía uma remessa de cartas. Minha pauta vinha naturalmente. Eu ia me lembrando das coisas e quando chegava o dia eu diagramava. Comecei com 20 exemplares e fui aumentando. Eu levava uma hora para fazer e uma semana para dobrar, envelopar. Dois anos depois, com tiragem de 500 exemplares, eu não aguentava mais tocar o “Clotilde News” porque eu passava uma semana produzindo.

Depois foi possível fazer e enviar o primeiro “mailling” on line de Natal?
Em 1994, eu já estava escrevendo no Jornal de Natal, fazia o Auto-Astral da Cabugi e já era conhecida pelo Clotilde News. Mas chegou uma hora que eu não conseguia mais. Tinha as sessões do jornal que era o Love Letters, onde publicava as cartas das pessoas, tinha a Biblioteca de Babel que era para divulgar os livros que eu estava lendo, e a Caro Leitor onde eu falava. Meu primeiro provedor foi o da Cabugi, e depois abriu a Diginet e fui uma das primeiras assinantes. Aí inventei de fazer um site, que foi o Clotilde News, depois criei o “Umas e Outras” e depois criei um boletim escrito em 1999.

Lembro que você foi umas das primeiras pessoas a fazer lista de discussão.
Minha primeira lista de discussão foi “Umas e Outras”, em 1999. Tive uma lista chamada “Fórum Cultural de Natal”, onde se discutia sobre Cultura. Aí depois apareceu a “Aldeia Poti”, “Beco da Lama”, que vieram todas depois da minha. Tenho tudo isso guardado impresso até hoje.

Quais as diferenças e semelhanças entre o RN e a PB?
Do ponto de vista da Cultura e da Geografia, é uma terra só. Se você me soltar no interior, fico sem saber onde estou, onde termina um estado e inicia o outro. Falando das capitais, morei em João Pessoa por quatro anos. Lá em João Pessoa todo mundo pensa que Natal é melhor e aqui todo mundo acha que João Pessoa é melhor. Acho que a grama do vizinho sempre é mais verde do que a nossa. No somatório, são equivalentes. Quando morei em João Pessoa, de 2005 a 2009, o Rock and Roll lá era muito fraco e aqui em Natal era mais forte. A dança aqui é melhor, lá o teatro é melhor. Mas, me refiro àquela época em que vivi lá, pois hoje temos grupos de teatro ótimos aqui. Acontece que a Paraíba tem atores mais velhos e o teatro lá tem mais consistência. Na Literatura, até hoje eu não sei quem é melhor. Na Culinária acho tudo muito parecido. Cultura popular também tem mais destaque lá. Aqui é vista como algo exótico.

Lembro que você refez o trajeto feito por Câmara Cascudo num livro que ele escreveu sobre o sertão...
O livro é “Viajando o Sertão”, de 1934. Refiz o projeto dele e tenho o relato dessa viagem, tenho as fotografias. Fotografei gente, casas, muita coisa. Dormi na casa das pessoas. Estive com gente que se lembrava na visita de Cascudo. Meu relato de viagem está gravado. São 15 horas de fitas que eu transcrevi e minha intenção era fazer um livro. Mas não tive apoio algum. Eu fiz, foi legal. Mas não tenho condições de fazer o projeto.

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